quinta-feira, 10 de julho de 2014

A recepção, em 2014, do Futurismo

É difícil determinar a era artística que estamos vivenciando. Misturamos o real e o abstrato, vamos do métrico ao livre. Algumas pessoas acreditam que nos dias atuais temos reflexos de tudo o que o mundo já viu de “artístico”. No meio de tantas obras simples e complexas, belas e feias, se torna difícil determinar o que é cultura e o que não passa de traços em uma folha branca.
O futurismo sempre carregou consigo a preocupação de demonstrar o movimento e retratar a tecnologia ao redor da sociedade. Nesse detalhe, acabavam muitas vezes “humanizando” as máquinas. Não importava se a obra ficaria parecida com a realidade. Não importava se fosse horrível. Os artistas futuristas tinham prioridades a seguir, e dessa forma, o movimento foi mal recebido na época em que surgiu: não havia beleza para ver, mas havia beleza para se pensar, e muitos não perceberam isso.
Para analisarmos a mentalidade das pessoas na atualidade - se ainda é o mesmo da de décadas atrás -, uma enquete com dez pessoas foi feita sobre esse movimento artístico tão importante. Ela consiste na análise das três imagens seguintes:



Figura 1: Automóvel + Velocidade +Luz - Giacomo Balla.
Figura 2: Um Inglês em Moscou – Kazimir Malevich.
 Figura 3: A chegada - Christopher Richard Wynne Nevinson
A partir da análise, uma pergunta foi feita a eles: “você considera isso arte?”. O resultado obtido foi o seguinte:


Figura 1
Figura 2
Figura 3
Lucia Helena Coelho Lehmkuhl
Considera
Considera
Considera
Raphaela Rigo
Considera
Considera
Considera
Amanda Barth
Considera
Considera
Considera
Chrys Balardin
Considera
Considera
Considera
Luca Orichio
Não considera
Não considera
Não considera
José Carlos Afonso
Considera
Considera
Considera
Salete da Silva Afonso
Considera
Considera
Considera
Otávio da Silva Afonso
Não considera
Considera
Considera
Alex Fraga
Não considera
Considera
Considera
Ariosto Loureiro Filho
Considera
Considera
Considera
  
Muitos tiveram receio em responder que sim. Afirmavam que as consideravam arte, mas deixavam claro que o motivo seria basicamente porque “tudo hoje em dia é arte”, como afirmou Raphaela Rigo. Outros diziam não gostar das formas abstratas que os quadros tinham, mas não as desconsideravam, como fizeram Lúcia Helena e Amanda Barth.
Luca Orichio, porém, rejeitou as três obras sem espaços para questionamento, afirmando que elas não passavam de riscos sem sentido ou figuras sem significados. Chrys Balardin por outro lado, defendeu a ideia de que arte é nada mais nada menos que uma expressão, podendo envolver simbologias ou semelhanças em relação ao que as imagens mostradas remetem. Disse que as características dos traços instigam a curiosidade e o encantamento.
Encantamento e curiosidade que José Carlos Afonso não enxergou na figura 1. Nas outras duas ele usou de atributos como a presença de cores para definir algo artístico, e ao ver a primeira imagem, não havia um consentimento com o que ele acreditava ser significativo. Porém ele não desconsiderou a obra – afirmou que sim, era arte, mas não tinha valor... Era vazia.
Já Salete da Silva Afonso considerou que todas teriam um importante valor cultural, descrevendo cada obra. Na primeira, ela fala de rostos de animais ou pirâmides “flutuantes”. Na segunda, ela falou de peixes, escadas, e um homem. Na terceira, ela comentou sobre forros de igreja, pontes e pessoas.
Muitas outras fizeram essas avaliações através da análise dos objetos que os cercavam, como Ariosto Loureiro Filho, onde a figura 1 transmitiria a ideia de claro e noite, a figura 2 lembraria um quebra cabeça e a figura 3 o faria pensar em esboços de um projeto maior.
Mas voltando para a figura 1, “Automóvel + Velocidade + Luz”, é evidente que foi a obra mais distinta dentre as três e, por consequência, a que acolheu mais negações. Otávio da Silva e Alex Fraga afirmaram exatamente a mesma frase: “é só risco”. Posteriormente tentaram encontrar algum objeto, mas sem nenhuma nitidez.
O que deve ser relevante é o fato que a obra de Giacomo Balla, mesmo sendo a menos aceita, foi considerada arte por mais da metade dos pesquisados. É de se constatar: os tempos mudaram e as vanguardas fizeram um “estrago” – bom ou ruim – nas nossas cabeças. Se essa mesma enquete fosse feita no ano em que o futurismo se lançou ao mundo, é praticamente certo que o resultado seria negativo. Vivemos em uma era onde o belo e o feio se juntam. Numa era onde a arte tem espaço para todos e (quase) todos aceitam isso.
Pode-se afirmar, também, que a aceitação das obras nos dias atuais foi bem maior devido ao conceito que as pessoas têm sobre o que realmente é arte. Pois enquanto nos tempos mais antigos (anteriores às vanguardas) as obras seguiam um estilo quase imutável, com a variação apenas no traço de cada pintor ou nas singulares palavras de cada escritor e poeta, hoje em dia, a mudança se tornou um elemento praticamente essencial para as obras, textos e pinturas, fazendo com que coisas antigamente consideradas estranhas, diferentes ou bizarras, transformassem-se em algo mais normal na atualidade, modificando o conceito de arte e deixando-o mais abrangente.

Dito tudo isto, podemos chegar à conclusão de que, sim, as obras futuristas são muito melhor aceitas nos dias de hoje do que quando foram mostradas ao público pela primeira vez, e que uma parte da culpa disso pode ser atribuída à transformação do conceito das pessoas sobre o que é arte e o que não é. 

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