E agora, o momento que todos estavam aguardando, o resultado final de nossa belíssima obra de arte de estética futurista, a qual resolvemos chamar de A velocidade sobre nossas cabeças, contemplem a majestosidade de nossa criação.
domingo, 13 de julho de 2014
A nossa Obra
Ao fim de todo este trabalho, nos foi solicitada o desenvolvimento deste blog e de uma obra que tivesse relação com a estética da vanguarda futurista. Eis que nos reunimos em uma tarde na escola, e começamos a montar tanto o blog quanto nossa magnífica pintura, feita em uma cartolina, com lápis aquareláveis, tinta nanking, e giz pastel seco. Foi nesta hora que alguns dons artísticos tiveram certa utilidade para nós, o que não quer dizer que a obra tenha ficado boa. Mas podemos afirmar que foi uma tarde divertida, com muitas risadas e trabalho duro, como você pode ver nas fotos tiradas pela única componente feminina do grupo, que preferiu não aparecer.
E assim, com esta beleza de obra, decretamos finalizado este trabalho, que nos consumiu muitas horas de sono e muita energia. Esperamos que todos tenham gostado.
As obras futuristas
BOCCIONI,Umberto, "A carga dos lanceiros".
Têmpera e colagem sobre papelão, 32 X 50.
A obra de Boccioni faz parte da
vanguarda futurista pois, dentre os aspectos do futurismo o autor usa a
sensação de velocidade abstrata já que
na obra tudo parece está se movendo de um jeito meio indefinido. O uso de
formas geométricas para a representação do que se deseja também é uma marca característica
do futurismo. A dinamicidade da obra demonstra que ela faz parte do futurismo
pois isso também é uma característica marcante do futurismo. E além de tudo
isso, a obra representa o terror da uerra e da violência, como visto nos
homens à cavalo e os traços fortes e marcantes, algo muito recorrente nas obras
futuristas.
BOCCIONI, Umberto, "O dinâmismo de um
ciclista", óleo sobre tela 70 X 95. Está obra é futurista pois, como o
próprio nome já diz ela representa o movimentação, a dinâmica do ciclista. A
obra não tem formas muito definidas, apenas algumas formas geométricas que são
uma das características da vanguarda futurista assim como os aspectos mecânicos
que vem do fato de ser uma pessoa em uma bicicleta se locomovendo. A obra
também dá uma sensação de velocidade, que embora não consigamos sentir, podemos
ver que ela está ali pelos traços mais alongados dos artistas e pelo
"deformação" do cenário de fundo.
BOCCIONI,
Umberto, "Estado de espírito”. Óleo sobre tela, 70,5 X 96. Está obra faz parte da vanguarda
futurista pois nela está retratado um trem, que é tudo que o futurismo
retratava, que era a modernização e a maquinização de tudo. A obra foi pintada
quase toda ela com forma geométrica que era uma das características do
futurismo, para retratar a padronização da sociedade.
CARRÁ,
Carlo. "Funeral do anarquista Galli", óleo sobre tela, 189 X 259. Está obra faz parte da vanguarda
futurista pois representa o movimento, que é uma das características mais
recorrentes nas obras futuristas. Este quadro representa uma cena que aconteceu
no funeral de um anarquista, onde as autoridades não permitiram a entrada de
outros anarquistas, com medo de que o funeral se tornasse de cunho político
(Fonte: http://oglobo.globo.com/pais/noblat/posts/2008/08/11/pintura-funeral-do-anarquista-galli-119201.asp,
acesso: 02 de julho de 14) . Na obra é usada as já conhecidas formas geométricas
que muito acompanham a vanguarda futurista.
BALLA,
Giacommo. "Árvores mutiladas", óleo sobre tela. Esta obra de Giacomo Balla faz parte
da vanguarda futurista pois saúda o modernismo, com uma representação de uma
floresta sendo desmatada provavelmente podemos imaginar por alguma máquina. A
obra passa a sensação de movimento, como se tudo estivesse sendo distorcido.
Nada está parado, está tudo se movendo de um jeito dinâmico.
BALLA, Giacomo. "Velocidade do automóvel", óleo
sobre tela. Esta obra pertence à vanguarda
futurista pois ela representa a velocidade. Também tem a saudação a modernidade
em meio ao automóvel, que é algo muito representado entre os futuristas. A imagem
também é como se fosse várias fotografias em seguida, que foi um meio dos
artistas futuristas encontraram para representar a velocidade. A obra é feita
por formas geométricas que é muito comum dentre os artistas futuristas, e a
forma do objeto representado é deformado, algo também muito comum quando dentre
os futuristas.
Velocitá d'Automobile, BALLA, GiacomoEsta obra faz parte da vanguarda
futurista, nela são encontradas características que pertencem ao futurismo,
como por exemplo a exaltação a máquina, a velocidade, e ao progresso. Outra
característica e que a obra não tem uma
forma concreta e é representada com muitas linhas e cores monótonas.
Velocitá Abstratta;BALLA,
Giacomo; Coleção particularEsta obra também faz parte da
vanguarda futurista, pois como é muito comum nas obras de Balla, ela exalta a
máquina. A obra não tem uma forma concreta sendo representada apenas por um
várias linhas que servem para passar a sensação de velocidade, e não para
representar algum objeto, ou no caso o carro.
Dnamisme d'une Automobile;
RUSSOLO, Luigi; 1911Esta obra faz parte da vanguarda
futurista pois tem a clássica referencia a máquina. Nesta obra, assim como
muitas outras, ela não é uma representação da realidade e sim é uma
representação da sensação do "dinamismo" do automóvel.
Forças de uma Rua; BOCCIONI,
Umberto; 1911Nesta obra, Boccioni confunde um
pouco dos aspectos do Cubismo e do Impressionismo para representar uma rua à
noite.
Automóvel + Velocidade + Luz; BALLA, Giacomo;
Coleção particular.Está obra de Balla pertence a
estética futurista pois exalta três das principais características do futurismo,
que são a máquina, a velocidade e a luz. Essas três características são
representadas pelas linhas que passam sensações e não a representação concreta
do objeto.
Ciclista; GONCHAROVA, Natália;
1911Esta obra pertence a estética
futurista pois representa o movimento, passa a sensação de movimento, algo que
os futuristas tentavam muito fazer, que é trabalhar não só com a representação
exata do objeto mas também com coisas de formas abstratas.
Dinamismo de um Jogador de
Futebol; BOCCIONI, UmbertoEsta obra de Boccioni pertence a
vanguarda futurista pois representa o movimento do jogador. Mesmo que o jogador
não tenha uma forma concreta na obra, ele esta sendo representado pela
tentativa de passar a sensação do movimento dele.
Canhão em Ação; SEVERINI, Gino;
1915; óleo na tela.Esta obra pertence a estética
futurista pois retrata a guerra, algo que era marca dos futuristas. Outra
característica que faz pertencer ao futurismo é a referencia a tecnologia, no
caso, o canhão.
Motociclista; MONTE, Mario Guido
Dal; 1927.Esta obra pertence a vanguarda
futurista pois representa o movimento do ciclista, algo que os futuristas
representavam bastante. Outra característica que faz ela ser da estética
futurista é que a obra faz representação da máquina, que no caso é a motocicleta.
sexta-feira, 11 de julho de 2014
Bibliografia
Estão listadas à seguir todas as fontes, impressas ou digitais, que utilizamos para realizar nossas pesquisas, e cujas informações inspiraram nossas mentes a produzir os textos contidos neste site.
Livros:
- HUMPHREYS, Richard. Futurismo.
São Paulo: Cosac & Naify, 1999;
- MICHELI, Mário de. As
vanguardas artísticas. São Paulo: Martins Fontes, 1991;
- FABRIS, Annateresa. O
desafio do olhar: fotografia e artes visuais no período das vanguardas
históricas. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2011;
- DEMPSEY, Amy. Estilos, escolas e movimentos. São
Paulo: Cosac & Naify , 2003.
Sites:
-
http://www.portalcapixabao.com/sites/?c=1954&p=794&exibe=222
-
http://global.britannica.com/EBchecked/topic/70885/Umberto-Boccioni
-ttp://www.macvirtual.usp.br/mac/templates/exposicoes/exposicao_colecao/exposicao_cole
cao_obras6_carra_biografia.asp
-
http://www.knoow.net/arteseletras/literatura/marinetti_filippo_tommaso.htm
- http://www.algosobre.com.br/biografias/filippo-marinetti.html
-
http://www.escritas.org/pt/biografia/fernando-pessoa
http://www.portalcapixabao.com/sites/?c=1954&p=786&exibe=222&s=paganotto_casa_do_artista
Fundação e Manifesto Futurista
20
de fevereiro de 1909
Havíamos
velado a noite inteira -meu amigo e eu- sob lâmpadas de mesquita com cúpulas de
latão perfurado, estreladas como nossas almas, porque como estas irradiadas
pelo fulgor fechado de um coração elétrico. Tínhamos conculcado opulentos
tapetes orientais nossa acídia atávica, discutindo diante dos limites extremos
da lógica e enegrecendo muito o papel com escritos frenéticos.
Um
orgulho imenso intumescia nossos peitos, pois nós nos sentíamos os únicos,
naquela hora, despertos e eretos, como faróis soberbos ou como sentinelas
avançadas, diante do exército de estrelas inimigas, que olhavam furtivas de
seus acampamentos celestes. Sós com os foguistas que se agitam diante dos
fornos infernais dos grandes navios, sós com os negros fantasmas que remexem
nas barrigas incandescentes das locomotivas atiradas a uma louca corrida, sós
com os bêbados gesticulantes, com um certo bater de asas ao longo dos muros da
cidade. Sobressaltamo-nos, de repente, ao ouvir o rumor formidável dos enormes
bondes de dois andares, que passam chacoalhando, resplandecentes de luzes
multicores, como as aldeias em festa que o Pó, transbordando, abala e arranca
inesperadamente, para arrastá-las até o mar, sobre cascatas e entre redemoinhos
de um dilúvio.
Depois
o silêncio escureceu mais. Mas, enquanto escutávamos o extenuado murmúrio de
orações do velho canal e o estralar de ossos dos palácios moribundos sobre as
barbas de úmida verdura, nós escutamos, subitamente rugir sob as janelas os
automóveis famélicos.
-
Vamos, disse eu; vamos amigos! Partamos! Finalmente a mitologia e o ideal
místico estão superados. Nós estamos prestes a assistir ao nascimento do
Centauro e logo veremos voar os primeiros Anjos! Será preciso sacudir as portas
da vida para experimentar seus gozos e ferrolhos! ... Partamos! Eis, sobre a
terra, a primeiríssima aurora! Não há que iguale o resplendor da espada
vermelha do sol que esgrima pela primeira vez nas nossas trevas milenares! ...
Aproximamo-nos
das três feras bufantes, para apalpar amorosamente seus tórridos peitos. Eu
estendi-me em meu carro, como um cadáver no leito, mas logo em seguida
ressuscitei sob o volante, lâmina de guilhotina que ameaçava meu estômago.
A
furiosa vassoura da loucura nos arrancou de nós mesmos e nos enxotou pelas
ruas, íngremes e profundas como leitos de torrentes. Aqui e ali uma lâmpada
doente, atrás dos vidros de uma janela, nos ensinava a desprezar a falaz
matemática dos nossos olhos morredouros. Eu gritei: -O faro, o faro só basta às
feras!
E
nós, como jovens leões, perseguíamos a Morte, com sua pele preta maculada de
pálidas cruzes, corria pelo vasto céu violáceo, vivo e palpitante.
Mas
nós não tínhamos uma Amante ideal que erguesse até as nuvens sua sublime
figura, nem uma Rainha cruel a quem oferecer nossos cadáveres, contorcidos como
anéis bizantinos! Nada, para querer morrer, a não ser o desejo de livrar-nos
finalmente de nossa coragem demasiado pesada! E nós corríamos, esmagando nas
soleiras das portas os cães de guarda que se arredondavam embaixo do ferro de
passar roupa. A Morte, domesticada, ultrapassava-me em cada curva, para
oferecer-me a pata com graça, e de vez em quando se estirava no chão, com um
barulho de maxilares estridentes, enviando-me, de cada poça, olhares aveludados
e acariciantes.
-
Saiamos da sabedoria como de uma casca horrível, e atiremo-nos, como frutos
apimentados de orgulho, dentro da boca imensa e retorcida do vento! ...
Entreguemo-nos como pasto ao Desconhecido, não por desespero, mas somente para
encher os profundos do Absurdo! Mal tinha pronunciado essas palavras, quando
virei bruscamente sobre mim mesmo, com a mesma embriaguez insensata dos cães
que querem morder a cauda, e eis que de repente vejo dois ciclistas que vêm ao
meu encontro, titubeando como dois raciocínios, ambos persuasivos, apesar de contraditórios.
Seu
estúpido dilema discutia sobre o meu terreno...
Que
chateação! Arre! ... Cortei o assunto, e, de desgosto, atirei-me de rodas para
cima num fosso...
Oh!
fosso materno, quase cheio de água barrenta!
Lindo
fosso de oficina! Eu saboreei avidamente tua lama fortificante, que me lembrou
a santa mama preta ama sudanesa...
Quando
me levantei - trapo sujo e malcheiroso - debaixo do carro virado, senti o
coração perpassado, deliciosamente, pelo ferro incandescente da alegria!
Uma
multidão de pescadores armados de vara e de naturalistas podágricos tumultuava
em volta do prodígio. Com cuidado paciente e meticuloso, aquela gente preparou
altas armaduras e enormes redes de ferro para pescar meu carro, parecido com um
grande tubarão encalhado. O carro emergiu lentamente do fosso, abandonando no
fundo, como escamas, a sua pesada carroçaria de bom senso e o seu fofo
acolchoado de comodidade.
Pensavam
que tivesse morrido o meu lindo tubarão, mas uma carícia minha bastou para
reanimá-lo, e ei-lo ressuscitado, ei-lo correndo novamente, sobre suas
poderosas nadadeiras!
Então,
como rosto coberto da boa lama das oficinas, mistura de escórias metálicas, de
suores inúteis, de fuligens celestes - nós, contundidos e de braços enfaixados
mas impávidos, ditamos nossas primeiras vontades a todos os homens vivos da
terra:
Manifesto
do Futurismo
1.
Nós queremos cantar o amor ao perigo, o hábito da energia e da temeridade.
2.
A coragem, a audácia, a rebelião serão elementos essenciais de nossa poesia.
3.
A literatura exaltou até hoje a imobilidade pensativa, o êxtase, o sono. Nós
queremos exaltar o movimento agressivo, a insônia febril, o passo de corrida, o
salto mortal, o bofetão e o soco.
4.
Nós afirmamos que a magnificência do mundo enriqueceu-se de uma beleza nova: a
beleza da velocidade. Um automóvel de corrida com seu cofre enfeitado com tubos
grossos, semelhantes a serpentes de hálito explosivo... um automóvel rugidor,
que correr sobre a metralha, é mais bonito que a Vitória de Samotrácia.
5.
Nós queremos entoar hinos ao homem que segura o volante, cuja haste ideal
atravessa a Terra, lançada também numa corrida sobre o circuito da sua órbita.
6.
É preciso que o poeta prodigalize com ardor, fausto e munificência, para
aumentar o entusiástico fervor dos elementos primordiais.
7.
Não há mais beleza, a não ser na luta. Nenhuma obra que não tenha um caráter
agressivo pode ser uma obra-prima. A poesia deve ser concebida como um violento
assalto contra as forças desconhecidas, para obrigá-las a prostar-se diante do
homem.
8.
Nós estamos no promontório extremo dos séculos! ... Por que haveríamos de olhar
para trás, se queremos arrombar as misteriosas portas do Impossível? O Tempo e
o Espaço morreram ontem. Nós já estamos vivendo no absoluto, pois já criamos a
eterna velocidade onipresente.
9.
Nós queremos glorificar a guerra - única higiene do mundo - o militarismo, o
patriotismo, o gesto destruidor dos libertários, as belas ideias pelas quais se
morre e o desprezo pela mulher.
10.
Nós queremos destruir os museus, as bibliotecas, as academia de toda natureza,
e combater o moralismo, o feminismo e toda vileza oportunista e utilitária.
11.
Nós cantaremos as grandes multidões agitadas pelo trabalho, pelo prazer ou pela
sublevação; cantaremos as marés multicores e polifônicas das revoluções nas
capitais modernas; cantaremos o vibrante fervor noturno dos arsenais e dos
estaleiros incendiados por violentas luas elétricas; as estações esganadas,
devoradoras de serpentes que fumam; as oficinas penduradas às nuvens pelos fios
contorcidos de suas fumaças; as pontes, semelhantes a ginastas gigantes que
cavalgam os rios, faiscantes ao sol com um luzir de facas; os piróscafos
aventurosos que farejam o horizonte, as locomotivas de largo peito, que pateiam
sobre os trilhos, como enormes cavalos de aço enleados de carros; e o voo
rasante dos aviões, cuja hélice freme ao vento, como uma bandeira, e parece
aplaudir como uma multidão entusiasta.
É
da Itália, que nós lançamos pelo mundo este nosso manifesto de violência
arrebatadora e incendiária, com o qual fundamos hoje o "Futurismo",
porque queremos libertar este país de sua fétida gangrena de professores, de
arqueólogos, de cicerones e de antiquários.
Já
é tempo de a Itália deixar de ser um mercado de belchiores. Nós queremos
libertá-la dos inúmeros museus que a cobrem toda de inúmeros cemitérios.
Museus:
cemitérios! ... Idênticos, na verdade, pela sinistra promiscuidade de tantos
corpos que não se conhecem. Museus: dormitórios públicos em que se descansa
para sempre junto a seres odiados ou desconhecidos! Museus: absurdos matadouros
de pintores e escultores, que se vão trucidando ferozmente a golpes de cores e
linhas, ao longo das paredes disputadas!
Que
se vá lá em peregrinação, uma vez por ano, como se vai ao Cemitério no dia de
finados... Passe. Que uma vez por ano se deponha uma homenagem de flores diante
da Gioconda, concedo...
Mas
não admito que se levem passear, diariamente pelos museus, nossas tristezas,
nossa frágil coragem, nossa inquietude doentia, mórbida. Para que se envenenar?
Para que apodrecer?
E
o que mais se pode ver, num velho quadro, senão a fatigante contorção do
artista que se esforçou para infringir as insuperáveis barreiras opostas ao
desejo de exprimir inteiramente seu sonho? ... Admirar um quadro antigo
equivale a despejar nossa sensibilidade numa urna funerária, no lugar de
projetá-la longe, em violentos jatos de criação e de ação.
Vocês
querem, pois, desperdiçar todas as suas melhores forças nesta eterna e inútil
admiração do passado, da qual vocês só podem sair fatalmente exaustos,
diminuídos e pisados?
Em
verdade eu lhes declaro que a frequência diária aos museus, às bibliotecas e às
academias (cemitérios de esforços vãos, calvários de sonhos crucificados,
registro de arremessos truncados! ...) é para os artistas tão prejudicial,
quanto a tutela prolongada dos pais para certos jovens ébrios de engenho e de
vontade ambiciosa. Para os moribundos, para os enfermos, para os prisioneiros,
vá lá:- o admirável passado é, quiçá, um bálsamo para seus males, visto que
para eles o porvir está trancado... Mas nós não queremos nada com o passado,
nós, jovens e fortes futuristas!
E
venham, pois, os alegres incendiários de dedos carbonizados! Ei-los! Ei-los!
... Vamos! Ateiem fogo às estantes das bibliotecas!... Desviem o curso dos
canais, para inundar os museus! ... Oh! alegria de ver boiar à deriva,
laceradas e desbotadas sobre aquelas águas, as velhas telas gloriosas! ...
Empunhem as picaretas, os machados, os martelos e destruam sem piedade as
cidades veneradas!
quinta-feira, 10 de julho de 2014
A recepção, em 2014, do Futurismo
É
difícil determinar a era artística que estamos vivenciando. Misturamos o real e
o abstrato, vamos do métrico ao livre. Algumas pessoas acreditam que nos dias
atuais temos reflexos de tudo o que o mundo já viu de “artístico”. No meio de
tantas obras simples e complexas, belas e feias, se torna difícil determinar o
que é cultura e o que não passa de traços em uma folha branca.
O
futurismo sempre carregou consigo a preocupação de demonstrar o movimento e
retratar a tecnologia ao redor da sociedade. Nesse detalhe, acabavam muitas
vezes “humanizando” as máquinas. Não importava se a obra ficaria parecida com a
realidade. Não importava se fosse horrível. Os artistas futuristas tinham
prioridades a seguir, e dessa forma, o movimento foi mal recebido na época em
que surgiu: não havia beleza para ver, mas havia beleza para se pensar, e
muitos não perceberam isso.
Para
analisarmos a mentalidade das pessoas na atualidade - se ainda é o mesmo da de
décadas atrás -, uma enquete com dez pessoas foi feita sobre esse movimento
artístico tão importante. Ela consiste na análise das três imagens seguintes:
Figura 1: Automóvel + Velocidade +Luz - Giacomo Balla. |
Figura 2: Um Inglês em Moscou – Kazimir Malevich. |
Figura 3: A chegada - Christopher Richard Wynne Nevinson |
A
partir da análise, uma pergunta foi feita a eles: “você considera isso arte?”.
O resultado obtido foi o seguinte:
Figura
1
|
Figura
2
|
Figura
3
|
|
Lucia Helena Coelho Lehmkuhl
|
Considera
|
Considera
|
Considera
|
Raphaela Rigo
|
Considera
|
Considera
|
Considera
|
Amanda Barth
|
Considera
|
Considera
|
Considera
|
Chrys Balardin
|
Considera
|
Considera
|
Considera
|
Luca Orichio
|
Não considera
|
Não considera
|
Não considera
|
José Carlos Afonso
|
Considera
|
Considera
|
Considera
|
Salete da Silva Afonso
|
Considera
|
Considera
|
Considera
|
Otávio da Silva Afonso
|
Não
considera
|
Considera
|
Considera
|
Alex Fraga
|
Não considera
|
Considera
|
Considera
|
Ariosto Loureiro Filho
|
Considera
|
Considera
|
Considera
|
Muitos
tiveram receio em responder que sim. Afirmavam que as consideravam arte, mas
deixavam claro que o motivo seria basicamente porque “tudo hoje em dia é arte”,
como afirmou Raphaela Rigo. Outros diziam não gostar das formas abstratas que
os quadros tinham, mas não as desconsideravam, como fizeram Lúcia Helena e
Amanda Barth.
Luca
Orichio, porém, rejeitou as três obras sem espaços para questionamento,
afirmando que elas não passavam de riscos sem sentido ou figuras sem
significados. Chrys Balardin por outro lado, defendeu a ideia de que arte é
nada mais nada menos que uma expressão, podendo envolver simbologias ou
semelhanças em relação ao que as imagens mostradas remetem. Disse que as
características dos traços instigam a curiosidade e o encantamento.
Encantamento
e curiosidade que José Carlos Afonso não enxergou na figura 1. Nas outras duas
ele usou de atributos como a presença de cores para definir algo artístico, e
ao ver a primeira imagem, não havia um consentimento com o que ele acreditava
ser significativo. Porém ele não desconsiderou a obra – afirmou que sim, era
arte, mas não tinha valor... Era vazia.
Já
Salete da Silva Afonso considerou que todas teriam um importante valor
cultural, descrevendo cada obra. Na primeira, ela fala de rostos de animais ou pirâmides
“flutuantes”. Na segunda, ela falou de peixes, escadas, e um homem. Na terceira,
ela comentou sobre forros de igreja, pontes e pessoas.
Muitas
outras fizeram essas avaliações através da análise dos objetos que os cercavam,
como Ariosto Loureiro Filho, onde a figura 1 transmitiria a ideia de claro e
noite, a figura 2 lembraria um quebra cabeça e a figura 3 o faria pensar em
esboços de um projeto maior.
Mas
voltando para a figura 1, “Automóvel + Velocidade + Luz”, é evidente que foi a
obra mais distinta dentre as três e, por consequência, a que acolheu mais
negações. Otávio da Silva e Alex Fraga afirmaram exatamente a mesma frase: “é
só risco”. Posteriormente tentaram encontrar algum objeto, mas sem nenhuma
nitidez.
O
que deve ser relevante é o fato que a obra de Giacomo Balla, mesmo sendo a
menos aceita, foi considerada arte por mais da metade dos pesquisados. É de se
constatar: os tempos mudaram e as vanguardas fizeram um “estrago” – bom ou ruim
– nas nossas cabeças. Se essa mesma enquete fosse feita no ano em que o
futurismo se lançou ao mundo, é praticamente certo que o resultado seria
negativo. Vivemos em uma era onde o belo e o feio se juntam. Numa era onde a
arte tem espaço para todos e (quase) todos aceitam isso.
Pode-se
afirmar, também, que a aceitação das obras nos dias atuais foi bem maior devido
ao conceito que as pessoas têm sobre o que realmente é arte. Pois enquanto nos
tempos mais antigos (anteriores às vanguardas) as obras seguiam um estilo quase
imutável, com a variação apenas no traço de cada pintor ou nas singulares
palavras de cada escritor e poeta, hoje em dia, a mudança se tornou um elemento
praticamente essencial para as obras, textos e pinturas, fazendo com que coisas
antigamente consideradas estranhas, diferentes ou bizarras, transformassem-se
em algo mais normal na atualidade, modificando o conceito de arte e deixando-o
mais abrangente.
Dito
tudo isto, podemos chegar à conclusão de que, sim, as obras futuristas são
muito melhor aceitas nos dias de hoje do que quando foram mostradas ao público
pela primeira vez, e que uma parte da culpa disso pode ser atribuída à
transformação do conceito das pessoas sobre o que é arte e o que não é.
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